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O treino das capacidades rítmicas do ciclista

Com alguma frequência surgem questões com as quais “encravamos” pois não descobrimos a solução. Uma das mais frequentes questões que se colocam no treino de ciclistas é: como se treinam capacidades coordenativas no ciclista? (Por capacidades coordenativas entendem-se coordenação motora, equilíbrio, ritmo, etc. Todas aquelas que dependem da relação predominante de aspectos cognitivos)
Hoje em dia já praticamente tudo é treinável. Neste post falo-vos do ritmo, uma capacidade de extrema importância num ciclista, e que precisa de estar mais em mente daqueles que trabalham em clubes de ciclismo, pois é um aspecto que deve ser incluído no treino. O ritmo assume uma grande importância no ciclismo, pois ele está presente por exemplo num contra-relógio individual e por equipas, numa perseguição, na manutenção de uma fuga…
Já reflectiram bem sobre as vantagens do treino do ritmo? Entre elas temos por exemplo:
  • Maior capacidade de gestão do esforço,
  • Maior capacidade de percepção das respostas fisiológicas do próprio corpo ao esforço (conhecer melhor o próprio corpo e os seus limites),
  • Melhor capacidade de percepção do ritmo dos adversários,
  • Melhor capacidade para liderar contra-relógios colectivos ou perseguições colectivas,
  • Melhor capacidade de gerir o seu esforço numa fuga, quer esteja sozinho ou acompanhado.
E agora coloca-se a grande questão: Mas como podemos então treinar esta capacidade?
Existem alguns métodos que podemos utilizar. Um deles consiste em utilizar sempre o mesmo andamento e definir um ritmo adequado para fazer um determinado tempo. O problema surge quando ele é feito em estrada, pois é difícil fazer um treino desses quando outros factores ambientais surgem no treino (vento, temperatura, pluviosidade, altimetria, condição do piso, etc). Posto isto o método que apresento no final deste documento é uma adaptação ao ciclismo de uma metodologia utilizada no atletismo para as corridas de meio fundo e fundo.
Para ser realmente perfeito, deveria ser feito num velódromo, pois seriam as condições ideais. Não sendo possível, então numa outra qualquer pista com características orográficas simétricas. Deve ser utilizada uma bicicleta de pista pois é mais simples ter noção do ritmo quando usamos carreto preso. Além disso a bicicleta de pista dá alguma estabilidade ao tipo de esforço a realizar, pois o ciclista guia-se pela cadência. Neste caso a cadência de pedalada é aquilo que marca o ritmo.
Na metodologia é utilizada uma progressão pedagógica, consoante o nível de ritmo que o atleta apresenta, e é sempre possível passar a um nível seguinte visto que não há limite de graus de dificuldade. Dentro das diversas variantes que podemos utilizar para progredir o atleta, o aumento do número de voltas vai permitir prolongar a noção de ritmo. Por acréscimo, a progressão seguinte é fazer tempos sempre idênticos em todas as voltas, que vai obrigar o ciclista a ter que se preocupar com a cadência durante todas as voltas. Por fim a diminuição do tempo a realizar vai dar mais fadiga ao atleta, que vai ter que perceber como terá que fazer para manter o ritmo quando a fadiga já estiver instalada. Após conseguir fazer o exercício correctamente sobre fadiga, estamos perante um atleta com uma excelente capacidade rítmica.
Em anexo segue o documento em pdf com o método que proponho, onde poderão ver em mais detalhe como consiste.

O treino das capacidades rítmicas do ciclista

Dicas para uma boa gestão do plantel

Uma das formas de tornar possível a diminuição dos conflitos no âmbito dos estatutos e papéis de cada ciclista numa prova, é a planificação antecipada do calendário a disputar ao longo da época. Os passos a seguir, serão apresentados na sugestão abaixo, dividido em 6 etapas para planear a condição física e os objectivos da temporada. As etapas que sugiro são as seguintes:
1-      Elaborar a calendarização e periodização do treino. Estabelecer quais os períodos de treino em comum que cada ciclista vai ter e estabelecer as linhas gerais da preparação mesmo antes de saber qual vai ser o calendário.
2-      Analisar o calendário e escolher quais as vertentes a praticar, atribuindo uma escala de importância que elas representam para a equipa (por exemplo de 1 a 3). Deve ter em consideração o orçamento disponível assim como as questões de marketing associadas aos patrocínios que a sua equipa representa.
3-      Dentro das vertentes a praticar, definir quais são as competições nas quais a equipa vai apostar mais ou menos. Atribuir também uma escala de importância (por exemplo de 1 a 3). Definir objectivos colectivos específicos para todas elas. Pode aqui jogar com o estatuto das próprias competições (competições internacionais, nacionais ou regionais) visibilidade das mesmas, localização, etc. por forma a garantir que os objectivos propostos vão de encontro aos interesses dos seus patrocinadores.
4-      Apresentar os objectivos colectivos a cada um dos ciclistas individualmente, e negociar um calendário seguindo o enquadramento estratégico estabelecido nas etapas anteriores. Esse calendário deve seguir os seguintes critérios:
  • Nível de condição física e correspondente progressão esperada pelo atleta e treinador;
  • Limite de inscritos por competição;
  • Características da prova adaptadas ás características do ciclista.
Durante este processo deve dar prioridade àqueles ciclistas que assumem maior importância para o alcance dos objectivos colectivos. Deve também deixar para o final os ciclistas que necessitam de evoluir enquanto atletas para que fiquem asseguradas as melhores preparações para os ciclistas que mais rendimento podem dar. Durante a negociação os ciclistas devem também atribuir uma escala de importância que atribuem a cada competição, fazendo depois uma correlação entre ambos os interesses para chegar a um acordo. É importante dizer que apesar de ter que haver flexibilidade na escolha da preparação da época, os objectivos colectivos devem sempre sobrepor-se aos do atleta, e apenas nos casos em que existe um elemento do grupo que faça a diferença (onde o treinador deve ser mais democrático e dar voz aos interesses do atleta), o treinador deve estabelecer as regras a seguir e ser o principal consultor da preparação, assumindo uma postura mais autocrática.
5-      Elaborar os planos anuais de treino personalizados tendo em conta o calendário e a preparação negociada com os atletas. Essa planificação deve seguir alguns critérios entre os quais:
  • Cumprir os princípios do treino;
  • Estar de acordo com as características do atleta;
  • Ir ao encontro do calendário estabelecido com o atleta.
Esses mesmos planos devem ser rigorosos e sem ultrapassar os limites propostos pelos autores no que toca ás cargas de treino. Se o atleta tiver voz na sua preparação anual e tiver já uma ideia de como vai correr a sua preparação, ele irá estar mais motivado para treinar e predisposto a trabalhar de forma mais séria.
6-      Executar os planos de treinos com uma periodicidade sempre igual (por mesociclos por exemplo) e fazer a devida avaliação física para obter as informações relativas á condição física do atleta. A avaliação deve ser periódica entre os 3 em 3 meses e os 6 em 6 meses. Servem essencialmente para verificar se a planificação e os resultados estão a corresponder. Quanto mais frequentes forem as avaliações, mais fácil será detectar potenciais falhas na preparação, sendo possível corrigir a tempo de cumprir os objectivos. Devem ainda ser feitos registos de treino também com a mesma periodicidade para verificar se os atletas estão a cumprir o treino previsto.
Parece-me no entanto importante salientar que trabalhar durante uma época numa equipa de ciclismo é muito mais do que o que aqui foi apresentado, sendo que isto é apenas uma amostra. Convém ainda referir que a condição física por si só não irá de forma alguma determinar o sucesso da equipa na obtenção dos resultados pretendidos, uma vez que estão subjacentes outros factores, nomeadamente os técnicos, psicológicos, interpessoais, e circunstanciais. O treinador/ Director Desportivo tem de estar sempre presente e nunca se esquecer de cada detalhe, pois tudo são pormenores que podem fazer a diferença. Esta foi apenas uma gota no oceano da gestão desportiva de uma equipa, área na qual espero desenvolver mais regularmente nas próximas intervenções neste espaço. Importante dizer ainda que a sugestão apresentada em cima é baseada em experiência própria e alguns conhecimentos adquiridos na área. No entanto não é uma verdade absoluta. Deve ser encarado como uma forma de trabalhar independente e que pode, quem sabe, ser compatível com outras e até possível de ajustar a outras formas de trabalhar.

O colectivo no ciclismo

O facto de se trabalhar em equipa no ciclismo é algo muito discutido e com muitas opiniões. Será que uma boa equipa vale assim tanto a pena? Um corredor com uma fraca equipa fica demasiado exposto e vulnerável perante outros?
Para mim, uma equipa é importante no ciclismo, e é ela quem faz a ténue linha entre ganhar e perder, mas não é ela          que faz “milagres”. Passo a explicar,  começando pelas etapas ao sprint. Corredores como Mark Cavendish usam a equipa e tiram bastante resultado dela e do que ela lhe traz. Os comboios e toda a perseguição feita, toda a protecção que a equipa lhe dá, sobretudo o trabalho efectuado por Mark Renshaw no lançamento que lhe permite o embalo e a colocação necessários ao sprint. Contudo, e apesar de ajudar bastante e lhe permitir uma grande senda de vitórias, já vimos que o Mark Cavendish é capaz de vencer sem comboio final, ajeitando-se e colocando-se sozinho entre os sprinters como fez quando venceu a Milan-San Remo e algumas etapas do Tour 2010 por exemplo. Depois temos ainda aqueles sprinters tipo Robbie McEwen e Oscar Freire que vencem sem equipa pois colocam-se sozinhos e conseguem desenvencilhar-se muito bem, arrancando ao aproveitar o trabalho das outras equipas.
Concluindo neste campo, a equipa é sempre necessária, pois sem não fossem elas a fazer as perseguições às fugas e a impedir ataques de final de etapa, seria mais difícil haver chegadas em condições para sprinters.  Quanto ao comboio e ao uso do lançador, para uns é mesmo necessário, como por exemplo Thor Hushovd que tem maior dificuldade em colocar-se e não tem tanta aceleração, e para outros como Oscar Freire não é praticamente necessário a não ser alguém que os ajude a meterem-se colocados lá no seio dos sprinters, que eles depois arranjam-se sozinhos e utilizam o efeito surpresa. Contudo, seja para quem for, o comboio dá sempre jeito, pois facilita o gasto de energias e permite aos sprinters serem lançados com o ritmo que lhes dá gosto.
De seguida, passemos às provas por etapas, seja de uma semana ou uma das três grandes voltas. O papel da equipa aqui é fundamental para alguém que queira alcançar um bom resultado. Casos como defender a camisola amarela, controlar etapas difíceis ou aumentar o ritmo para os lideres poderem atacar são os mais fáceis de ter em atenção. Contudo, uma equipa não resolve tudo. Para haver influência da equipa na possível vitória do seu líder é preciso que ele esteja em igualdade de forças com o seu adversário. Não podemos esperar que um Ivan Basso esteja ao nível de um Contador e um Schleck, independentemente da equipa que tenha. A equipa pode ajudar, mas é preciso vencer o adversário e medir forças com ele, senão, não há táctica que valha. Contudo, a falta de uma equipa decente pode também deitar por terra as expectativas de um corredor neste tipo de provas, e que o diga o Evans, que perdeu 2 Tours(2007 e 2008) e um Giro (2010) porque, nos momentos que esteve pior e que todos os têm, viu-se prejudicado por não ter quem o apoiasse e o pudesse fazer emendar o que saiu mal.
Em conclusão, não se pode vencer uma prova por etapas sem equipa, mas também é necessário ter um líder extremamente forte, equiparado aos melhores, para poder lutar pela vitória. E aí sim, a equipa faz a diferença, como se notou este ano entre Contador e Schleck, onde o primeiro beneficiou de uma grande ajuda do David Navarro que meteu um ritmo infernal na 1ª etapa de montanha que permitiu ao seu líder, que passava mais dificuldades, não ser tão atacado pelos adversários. Quanto a Andy Schleck, má sorte teve em lhe faltar o irmão lesionado quando a corrente saltou e ele foi obrigado a parar. Ou seja, a equipa faz diferença entre dois corredores com valores aproximados, mas nunca será suficiente para alguém que está uns furos abaixo dos melhores.
No que diz respeito às clássicas, aqui pode ser utilizada uma táctica em equipa de várias maneiras. É uma corrida de um ano e podem arriscar com alguém menos cotado que tenha alguma sorte e esteja num dia fantástico. A equipa pode ter mais que um elementos a arriscar, pode responder a certos ataques e usar alguns elementos da equipa para levar um à vitória. É uma corrida de um dia, onde se arrisca e onde tudo é imprevisível. Mais facilmente se podem utilizar diferentes tácticas de corrida e arriscar com mais de um elemento. É onde a equipa, de forma muito diferente, pode assumir as coisas de maneira diferente e apostar em mais de um corredor.
Em qualquer dos casos, a nível psicológico, uma equipa trabalhar para o seu líder dá-lhe confiança e é um meio de unir toda a gente, um tónico de motivação para o líder que tem, assim, mais um motivo para vencer. Mas para tal, é preciso que a equipa se entenda e trabalhem bem.
No fundo, e de forma geral, no ciclismo é preciso equipa para vencer, ajuda bastante todos os lideres, quer a nível físico como psicológico, mas que, apesar de a equipa ser muito importante, a qualidade do líder é nuclear. Se ele não for tão bom quanto os adversários, não conseguirá à mesma vencer. É preciso uma relação entre ambos, e mais vale ter uma equipa, que apesar de conseguir ajudar, seja um bocado mais fraca, do que uma grande equipa em torno de um líder que não está ao nível dos adversários, a não ser que o objectivo da equipa seja exclusivo de etapas e clássicas, e onde uma equipa muito forte sem um líder ou um corredor que se destaque mais, consegue alcançar os seus objectivos.

As lesões mais frequentes no ciclismo

As lesões são um dos grandes “monstros” pelos quais um ciclista não quer enfrentar. A sua influência negativa no corredor irá ser um factor de regressão no seu processo de treino, como também na sua motivação, autoconfiança e acima de tudo, na sua saúde!
Segundo Agustin Juan Garcia, quando falamos em lesões no ciclismo, convém diferenciar algumas causas mais frequentes para elas aparecerem. Entre elas estão as seguintes:
  • Quedas
  • Postura incorrecta
  • Excesso de treino ou treino inadequado
Dentro destas 3 causas, há que de facto diferenciá-las, pois todas elas levam a lesões diferentes.


Nas quedas, há que ter em conta os reflexos do ciclista quando cai. Aliás, os reflexos são quase sempre os mesmos quando se cai, seja de bicicleta, a pé, ou de outra altura qualquer. A tendência é para colocar as mãos no chão, deixando o resto do corpo desprotegido. Partindo deste pressuposto, as lesões mais comuns são aquelas que são provocadas pelo impacto do corpo do ciclista no chão. Fractura do pulso (toda a zona cárpica assim como as epífises cubital e radial) efractura da clavícula são as mais frequentes. A estatística demonstra que esta são as duas lesões mais largamente contabilizadas nesta modalidade.  Não esquecer no entanto, outras estruturas ósseas que embora em menor escala, também são afectadas, nomeadamente ossos da cara (mandíbula, maxila, nasal e zigomático são os mais frequentemente afectados) assim como os ilíacos (zona do quadril, ou de forma corriqueira, zona da “bacia”). É por isso, compreensível que um corpo estruturalmente mais desprotegido e menos robusto (em termos de musculatura) tenha maior tendência para sofrer fracturas facilmente, tendo em conta as grandes velocidades a que se desloca, sofrendo grandes impactos quando há uma queda.
Ainda dentro das lesões por quedas, temos as tão conhecidas escoriações e contusões, que tendencialmenteatingem as zonas de impacto, nomeadamente a cara, face lateral exterior da coxa e da perna, epífise peronial e femural, joelho, assim como os abdutores e toda a zona lateral externa dos cotovelos, costelas e ombros.
Outro tipo de lesões são as de causa de má postura. Quando a posição do ciclista na bicicleta é incorrecta, costuma haver lesões musculares e articulares, as mais frequentes são: nos tendões dos gémeos (quando há uma mudança brusca da altura do selim, sem antes passar por uma fase progressiva de adaptação); nos ligamentos dos joelhos (fruto da mudança da posição de bicicleta normal para contra-relógio); lombalgias (falta de hábito á posição, ou mudança brusca de posição e altura dos braços e do tronco, normalmente quando se muda de bicicleta); nos joelhos (quando as patilhas dos sapatos estão colocadas de forma errada, ou é mudado o ângulo das mesmas, provocando uma rotação lateral do joelho, e provocando dor). Outro tipo de “lesão” (embora não seja medicamente reconhecida como tal) são a formação de frúnculos na zona bulbouretral, para os menos perspicazes, na zona de contacto directo com o selim. Esta acontece frequentemente quando a posição do corpo sobre a máquina é mantida na mesma forma durante longos períodos de tempo.Também está associada quando há uma mudança do próprio selim, ou mudança da camurça dos calções (protecção dos calções), sendo que este último factor normalmente está mais associado às mudanças de equipamento, visto que marcas diferentes costumam ter ergonomias e texturas diferentes no tecido dos calções.
Se por um lado para as lesões por queda há pouco por onde prevenir, porque podem acontecer a qualquer um, já estas são perfeitamente evitáveis. O nosso corpo é uma máquina excelente, e consegue adaptar-se às mudanças estruturais que fazemos sobre ele. Como tal, sempre que alterarem uma peça da bicicleta, ajustarem uma medida, mudarem de sapatos, mudarem de patilhas, mudarem de pedais, etc. Façam-no de forma progressiva, e muito importante, nunca o façam poucos dias antes de uma corrida, porque vai ser doloroso! O nosso corpo não gosta de mudanças bruscas, e reage negativamente, pelo contrário, mudanças progressivas causam adaptação mais facilitada sem risco de lesões perfeitamente escusadas.
Por último resta-me referir nas lesões por excesso ou treino inadequado. As mais frequentes são as conhecidas tendinites, nomeadamente nos joelhos, tendão de Aquiles, e tendões dos gémeos. Outro tipo de lesões são: mialgias, rupturas e inflamações musculares. Os músculos mais sujeitos a lesões musculares são os quadricípedes (extensores da coxa), gémeos, solear, e abdutores. Não esquecer ainda que dentro desta última causa também se enquadram as fracturas de stress ou de esforço, que são consequência de falta de recuperação adequada, não permitindo que a estrutura óssea se regenere, provocando fissuras.
As tendinites, mialgias e roturas estão associadas a treino excessivo, sem devida nutrição, descanso, cargas de treino desproporcionais ao seu nível de rendimento actual, ou até mesmo falta de exercícios de aquecimento. Já as dores musculares extremamente localizadas podem estar associadas a más práticas de treino, assimetrias musculares, que advém da falta de preparação de base do organismo para o esforço físico. Daí a importância do ginásio na pré-época para preparar todos os grupos musculares, tonificando-os e reforçando os ligamentos e tendões.

O ensino do ciclismo de base através do jogo

O jogo é uma ferramenta excelente para o ensino de qualquer actividade motora. Este tem características que potenciam uma maior motivação e interacção com os outros agentes que intervêm na modalidade, e como tal, são uma das vias possíveis para o ensino de uma modalidade, e diga-se, talvez a mais bem sucedida.
Quando falamos em ensino do ciclismo, estamos direccionar o nosso tema essencialmente para idades muito precoces, dentro da 1ª etapa de formação do ciclista. A forma lúdica de trabalhar uma modalidade é uma das formas de cativar as crianças para continuarem a querer praticar essa mesma actividade.
Para esta modalidade, existem já várias formas de trabalhar nestas idades. Em Portugal o método mais utilizado é a tradicional gincana, em que os alunos têm que mostrar a sua habilidade motora passando por vários obstáculos de carácter diferente, desde segmentos de perícia, equilíbrio, coordenação, passando por provas de velocidade onde mostram a sua condição física. Tudo isto sempre com um carácter competitivo através do incremento do tempo de execução. Mas será que se usar-mos sempre o método como competem para treinar, vamos tirar partido de todas as potencialidades que estas crianças têm nesta fase do seu desenvolvimento? Será que as crianças se sentirão motivadas em treinar só gincana e velocidade durante esta fase da sua formação? Na minha opinião não, e passo a explicar porquê.
Zabala et al. (2007) estabelecem uma série de conteúdos que podem ser abordados durante o treino do ciclismo nestas idades, que pode complementar as capacidades condicionais e coordenativas que as crianças vão necessitar para realizar as suas competições. Esses conteúdos são:
  • Mecânica
  • Equilíbrio
  • Manobrabilidade/coordenação
  • Ultrapassar obstáculos/perícia ou destreza
  • Jogos colectivos
  • Gincana
Foi com base nos conteúdos expostos acima, que Antonio Som (2009) decidiu ir mais longe nos conteúdos e especificar mais as propostas dos autores anteriores. Dividiu o ensino de base do ciclismo nos seguintes conteúdos:
  • Mecânica
  • Equilíbrio
  • Manobrabilidade/coordenação
  • Ultrapassar obstáculos/perícia ou destreza
  • Educação rodoviária
  • Educação ambiental
  • Condição física
  • Jogos colectivos
  • Gincana
  • Sessões de competição
Todos os conteúdos expostos anteriormente apresentam umcarácter lúdico, que irá ser o factor crucial para incutir o gosto pela modalidade nas crianças que o praticam. Esta fórmula pode ser uma solução para fazer com que mais crianças permaneçam na modalidade desde cedo, evitando assim a falta de motivação característica da idade que as faz saltar de modalidade em modalidade muito facilmente.
Para além de tudo isto, estes pequenos jogos e brincadeiras têm outras vantagens pedagógicas:
São um meio de uma maior interacção com outras crianças da mesma idade, o que não acontecia com a mesma evidência com apenas o treino da gincana e da velocidade, em que praticamente não interagia com outras crianças. Isto acontece devido ao facto de que o treino para as competições ser feito exactamente como um jogo formal, faz com que essas actividades sejam actividades em que a comunicação é sociomotora de oposição (relação entre si próprio e o seu opositor) e comunicação psicomotora (relação apenas consigo próprio). Por sua vez, se for utilizada esta metodologia, em que as crianças treinam através de jogos lúdicos que potenciam a comunicação sociomotora de cooperação e oposição, (relação entre si e os companheiros de equipa, e com os adversários) a socialização entre as crianças será maior, logo irão fazer mais amigos, irão ter mais um factor que os prende àquela modalidade.
Nunca é demais salientar que esta metodologia tem ainda um papel fundamental na educação integral das crianças (se bem se lembram os mais atentos, essa é uma das missões dos clubes de formação), ao promover a educação rodoviária e a educação ambiental. Essas temáticas parecem-me bastante pertinentes, pois devemos sensibilizar as crianças para estes problemas desde cedo.
Ainda tem outras vantagens adjacentes a qualquer prática desportiva que implicam o combate ao sedentarismo e à obesidade infantil que afecta esta faixa etária de uma forma cada vez mais preocupante no nosso país e nos países desenvolvidos de uma forma geral.
Quem quiser ver em mais detalhe em como consiste esta metodologia criada por Antonio Som (2009) adaptado de Zabala et al. (2007) basta clicar na hiperligação abaixo. (A tradução foi feita por mim, pelo que pode conter pequenos erros.)

O ensino do ciclismo de base através do jogo

Treino de Força: no ginásio ou na bicicleta?

Este é um texto da autoria de José Luiz Dantas, pelo que eu apenas me limito a transcrever na íntegra. É bom referir que o texto está em “português brasileiro”. Um texto muito bom que leva a quebrar alguns mitos sobre as grandes diferenças do treino de força no ginásio ou na bicicleta. Aqui fica então o texto:

Força vs Desempenho

Quando você vai à academia fazer seu treino de força para membros inferiores, o que você almeja? Prevenção ou desempenho esportivo. Na atualidade, para a maioria dos treinadores e atletas das diversas modalidades é corriqueiro o pensamento e senso comum de que o treinamento de força na sala de musculação e o consequente aumento de força proporcionam um maior rendimento esportivo. Mas será mesmo verdade?


 
No caso do ciclismo de média a longa duração (quatro quilômetros em diante), se você vai buscar na sala de musculação prevenção a lesões e treinamento de base, ótimo, você está correto. Equilíbrio de forças entre as principais musculaturas que realizam o movimento (agonistas) e as que se opõem ao movimento (antagonistas), mas que muitas vezes trabalham como estabilizadores, a melhora da coordenação entre agonista/antagonista e fortalecimento das estruturas conjuntivas (tendões e ligamentos) são alguns dos fatores que proporcionam prevenção a lesões e que preparam as estruturas para o treinamento intenso.
O fortalecimento dos músculos abdominais e membros superiores também ajudam a sofrer menos durante a prova pela maior resistência adquirida, se os treinos forem planejados e realizados corretamente para este objetivo.

MITOS E VERDADES

Porém, se o seu objetivo dentro da sala de musculação é desempenho no ciclismo de média a longa duração (seja no mountain bike ou no ciclismo de estrada), principalmente dos membros inferiores, e você é um daqueles que sai pregando para todo mundo que isto é extremamente importante para o desempenho nestas categorias, na atual conjuntura da pesquisa, você precisa mudar seu conceito e repensar o que está dizendo.
A maioria dos estudos que usaram o treinamento de força com base em exercícios na sala de musculação, como por exemplo, exercícios de cadeia cinética aberta (mesas extensoras e flexoras), portanto, inespecíficos ao ciclismo, têm demonstrado que não há um aumento de desempenho em provas e testes específicos da modalidade, apesar de aparecer aumento evidente da força quando o teste é realizado no equipamento em que se treina.
Até os exercícios de cadeia cinética fechada (agachamento, leg press, stiff, saltos) somente demonstram algum efeito se tem característica explosiva e são combinados com exercícios de força específicos.
Dentro deste contexto, é importante conscientizar-se da necessidade de transferência da força obtida com o trabalho na sala de musculação com um trabalho de força específica no ciclismo, e caso contrário, o trabalho de força inespecífico torna-se ineficiente quando o objetivo é desempenho nas competições.


 
TREINADORES E TÉCNICOS
Porém, quando o trabalho é específico e muito bem planejado, torna-se um excelente instrumento para aumentar a potência relativa e absoluta, máxima e nos limiares, e isto significa pedalar a uma velocidade média maior, empurrando relações de marcha mais pesadas sentindo a mesma percepção de esforço anterior. Isto acontece devido ao músculo tornar-se mais eficiente em produzir força.
Infelizmente, é incomum o planejamento deste tipo de treinamento por ciclistas e treinadores tradicionais, pois a maioria do treinamento é baseada na experiência desportiva passada baseada apenas na experiência, que é muito importante também, mas que deve se aliar ao conhecimento científico produzido sobre a modalidade.
Portanto, além da consciência de que técnico e preparador físico são funções diferentes, os atuais preparadores físicos já formados precisam habituar-se a conciliar experiência com ciência.
O que muitos dizem julgando pelo “que acham” que aprenderam pela experiência vivida na modalidade, muitas vezes, como neste caso da força específica, está demonstrado na literatura, após uma observação sistematizada, com posição contrária ao que estamos geralmente afirmando no dia-a-dia sem nenhuma fundamentação.
Vale ressaltar que se a mesma pessoa atuar nestas duas funções (técnico e preparador físico) precisa ser graduado em Educação Física, pois a preparação física exige uma série de conhecimentos que não pode ser obtida somente pela experiência na modalidade.
Lembre-se que o treinamento de força específica tem que ser o mais próximo possível do gesto desportivo, e no caso do ciclismo, por exemplo, tem que ser realizado na bicicleta. Procure seu preparador físico, converse com ele sobre o assunto e peça-lhe para organizar seu treinamento de força específica. Se você tiver que optar entre o treino de força na bicicleta ou na sala de musculação, prefira a primeira opção, pois além das adaptações relacionadas à prevenção, você obterá a melhora de desempenho almejada se o treinamento for gradual e corretamente planejado.

Situação de “competição formal” no treino de ciclismo de estrada

Hoje em dia quando falamos em ciclismo, falamos numa modalidade que tem logo á partida uma desvantagem perante outras, o facto de não ser disputada em recinto desportivo e sim na via pública (no que se refere ao ciclismo de estrada). Isto cria vários problemas na qualidade do treino do ciclista e na preparação que este terá para a competição, nomeadamente no que respeita ao treino, e vou tentar explicar porquê.
Se no futebol, andebol, ténis, basquetebol, rugby, etc, nós conseguimos num treino criar uma situação de “jogo formal”, no ciclismo isso torna-se impossível. Para quem não sabe o que quero dizer com “jogo formal”, significa proporcionar em treino as mesmas condições que são criadas durante a competição.
Vou tentar exemplificar para ser mais fácil entender: Durante um treino de futebol, podemos fazer um “jogo formal” de 11 contra 11 para treinar diferentes especificidades ou experimentar várias soluções ao critério do treinador, assim como no ténis podemos criar o “jogo formal” no treino, através do seguimento das regras formais do jogo de ténis com 2 ou 4 jogadores num corte, consoante seja um jogo de pares ou singulares. Assim como no andebol para tentar antecipar o modo de jogar da equipa adversária, facilmente se cria um situação de jogo com 7×7 e se experimenta os diferentes sistemas táticos do adversário com os nossos.
O que se passa no ciclismo é muitíssimo diferente. A competição formal no ciclismo de estrada, nomeadamente na prova em linha, pressupõem um número elevado de atletas (pelotão), de diferentes equipas, com diferentes características, com diferentes objectivos. Acontece que no treino não conseguimos reproduzir uma situação “formal” de competição (a tal definição de outras modalidades de “jogo formal”) havendo desta forma umanecessidade de recorrer a jogos reduzidos e/ou condicionados e a diferentes metodologias para podermos trabalhar especificidades nos nossos atletas. No entanto, será apenas durante a competição que o atleta poderá melhorar os aspectos competitivos do seu rendimento. Por isso é que muitas vezes se diz na gíria, que um determinado indivíduo é o “campeão dos treinos” e depois em competição não obtém resultados ao nível da expectativa criada.
Ao nível da competição em ciclismo, só com prática é que se adquirem as qualidades necessárias a ser um bom ciclista. Só andado no pelotão é que o ciclista saberá como se comportar no mesmo. Assim como da mesma forma só andando em fuga numa prova é que o ciclista irá aprender a lidar com essa situação específica (ao longo do tempo), da mesma forma que só aprenderá a fazer a recolagem ao pelotão através da progressão nos carros de apoio, se tiver que o fazer em competição. Da mesma forma que só aprenderá a ler uma corrida, se estiver envolvido nela, etc. Por muito treino de técnica individual e colectiva que se faça, por muito treino mental e táctico, por muito treino físico que se queira implementar, nenhum dos elementos referidos conseguirá reproduzir uma situação de “jogo formal” em ciclismo, o que torna o desafio do treinador enorme no que se refere á forma como terá que desenvolver a preparação.
É ao treinador que cabe responsabilidade de saber na altura certa antes, durante ou após a competição analisar e interpretar o desempenho dos seus ciclistas e corrigindo-lhes os erros (dando-lhes os feedbacks mais eficazes) proporcionando ao ciclista a bagagem necessária para se desenvolver durante a competição “formal”, fazendo com que este se saiba comportar, e lidar com a situação de competição, e para isso deve sempre que possível colocá-lo a correr. Cabe também ao treinador ter criatividade e metodologia capazes para corresponder ás necessidades de cada um dos seus atletas durante o treino. Criando exercícios que ajudem a reproduzir alguns aspectos específicos da competição, uma vez que é impossível gerar todos os elementos competitivos numa sessão de treino.
Como já se percebeu é impossível criar uma situação formal de competição num treino, devido a alguns factores, entre os quais:
  • Impossibilidade de criar um pelotão
  • Limitações relacionadas com o trânsito e respeito pelas normas de segurança rodoviária
  • Impossibilidade para treinar todos os percursos das competições a realizar durante a temporada
  • Limitações para reproduzir as velocidades de competição (velocidade média km/h)
  • Falta de interacções com outros agentes da competição
  • Entre outros factores
Nesta perspectiva, o treinador deve saber usar as ferramentas que dispõe para criar situações o mais próximo possíveis da situação “formal” de competição, tentando minimizar o mais possível situações de treino analítico (fora do contexto competitivo), quando falamos na época do treino com bicicleta na durante a temporada (período preparatório específico e período competitivo). Desta forma espero ter feito chegar a mensagem de que um ciclista ganhará muito mais experiencia competindo, e por sua vez só competindo conseguirá atingir o nível ideal de performance desportiva, e não é apenas com treinos (mesmo sendo eles complementares) que atingirá o sucesso desportivo que se pretende.

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